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25.7.06

Lula e seu comício flopado em Brasília

Fui a muitos comícios eleitorais em minha vida e acabo de chegar de mais um –o de Lula, aqui em Brasília, realizado agora no início da noite a pretexto de inaugurar o seu comitê de campanha na capital federal.

Deu quase tudo errado para o petista. Exceto as imagens que sobraram para o programa de TV (as câmeras fechadas vão mostrar uma “multidão” presente).

O comício foi inicialmente previsto para as 20h. A TV Globo mandou dizer, com razão, que não daria tempo de entrar uma fala de Lula no “Jornal Nacional”. O comício foi antecipado para as 19h. Mas Lula atrasou... A imagem que entrou do comício no “JN” foi do momento em que o palpitante Aldo Rebelo falava (o que ele estava fazendo ali, se é deputado por São Paulo?) .

A Globo, com seu moderníssimo caminhão de transmissão ao vivo ficou ali, sem ter o que fazer para dar uma fala ao vivo do presidente.

“Lula de novo, com a força do povo” diz o excelente jingle de campanha do petista. Mas o povo não apareceu. Segundo os organizadores, eram 3.000 os presentes. Segundo os bombeiros, 2.000. Segundo este jornalista e suas mais de duas décadas de cobertura de comícios, não estavam ali mais do que 1.500 pessoas –a imensa maioria era composta por militantes do PC do B, PSB e outros. Só a metade era petista, se tanto. Todos tiveram de passar por detectores de metal antes de entrar no cercadinho reservado ao povo.

E animação? Fala sério. Fiquei no fundo da platéia. Nada. A galera presente ficava olhando, não cantava, não se mexia. É claro que os 200 na frente do palanque pulavam como nunca –mas é sempre assim, até em programas de TV, certo?

No palanque, Lula, Marisa, Berzoini, Aldo Rebelo, Tarso Genro, o ministro do Esporte (não sei o nome dele), Agnelo Queiroz (ex-ministro do Esporte), Luiz Dulci, Edson Vidigal (o que ele estava fazendo ali?), Samuel Pinheiro Guimarães (o ideólogo da política Sul-Sul de Lula, com direito a menção especial pelo chefe), Arlete Sampaio (a petista candidata ao governo de Brasília), Luiz Marinho.

E os discursos? Primeiro, Berzoini. Vá lá. Ele é presidente do PT. Falou das 20h08 às 20h15. Depois, Agnelo (ele é candidato a senador coligado ao PT em Brasília). Depois, Arlete Sampaio. Ela terminou e já eram 20h35. Chegou a vez de Lula? Não, o microfone foi passado a Aldo Rebelo, que terminou de falar só às 20h44 –depois de dar uma aula de história citando a Independência do Brasil em 1823 (sic).
Lula começou às 20h46. Reclamou que não haviam lhe dado “uma nominata” –aquela listinha com o nome de todo mundo presente, para o político citar um a um no início de seu discurso... Animado com a aula de história de Aldo Rebelo, o presidente-candidato contou que vem de longe o preconceito e o medo das elites com os menos favorecidos. Segundo ele, os portugueses não quiseram usar índios e negros. “É muito perigoso chamar os índios e os negros para lutar ao lado da elite”, pois eles depois tomam o poder.

As gafes de praxe estavam lá (“foi difícil cortar no próprio sangue”). As imitações de FHC (“precisamos fazer muito mais. É um processo”). E a estratégica básica de se comparar ao antecessor (só não quer discutir o passado “quem não tem passado ou vergonha do seu passado”).

Sobre a eleição, disse o seguinte sobre seus opositores: “Querem vir comer o filé mignon que nós colocamos na mesa”. Isso, depois que ele, Lula, deixou tudo “preparadim” e “arrumadim”.

No final, realismo. “Esse negócio de eu ficar falando bem de mim para vocês é ruim”. E mais: “Não vou prometer o que eu não posso cumprir (...) Prefiro a verdade absoluta”.

É isso aí. Assim foi o comício de Lula em Brasília. Mas, pensando bem, qual o problema de ele ter perdido uma entrada ao vivo no “JN”? Pode ser até melhor. Como amanhã o petista não tem atividade de campanha aberta, o jornalismo da TV Globo talvez fique condenado a editar alguma cena do comício de hoje à noite.

Escrito por Fernando Rodrigues (Blog no UOL)